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METODOLOGIA DE ENSINO DO SURFE

O surfe é uma modalidade esportiva que teve sua origem há muitos anos, provavelmente os Polinésios foram os primeiros que se desafiaram sobre as ondas do mar. Depois disso, o esporte foi crescendo e se desenvolvendo sendo praticado no Havaí, Europa e em vários outros países. No Brasil, o surfe começou a ser praticado em meados da década de 1930, passando por diversas dificuldades e barreiras, pois os surfistas sofriam preconceito por parte da sociedade.

   Na atualidade, essa imagem já é outra, visto que a modalidade vem conquistando muitos adeptos, como público feminino, alunos com necessidades especiais, crianças, competidores, etc. No caso específico do Brasil, o quadro não é diferente, pois vem conquistando excelentes resultados nacionais e internacionais. Atualmente temos três campeões mundiais (Ítalo Ferreira e Adriano de Souza e Gabriel Medina – tricampeão), e a modalidade também virou esporte olímpico, temos nosso primeiro medalhista de ouro, Ítalo Ferreira.

  Desta maneira, o surfe vem trazendo visibilidade e popularidade ao esporte, no país é apontado como um dos que mais atrai olhares do público pela televisão e outras mídias sociais como instagram, facebook, etc. Esse fenômeno faz girar também de maneira estratosférica a indústria (economia) do turismo, da surfwear, da alimentação saudável, qualidade de vida, preparação física, fisioterapia, entre outros.

  Hoje já temos pelo mundo e no Brasil piscinas com onda artificial e de boa qualidade, onde você pode aprender e treinar com mais segurança, num ambiente confortável e controlado, através de um processo de ensino aprendizagem sólido e, não somente na prática do dia a dia. O futuro do surfe ainda está por vir, vamos juntos surfar essa onda?

Características do Surfe

   O conceito de surfe vem do aportuguesamento do termo inglês surf e é uma prática esportiva efetuada da superfície da água, considerada parte do grupo de esportes de aventura (GUIA PRÁTICO DE SURF, 1993). O Surfe constitui-se como um esporte de risco na natureza, pois é praticado em um ambiente imprevisível e instável. Neste ambiente o praticante procura interagir com a força de suas ondas, ventos, correnteza, temperatura da água, etc. Fica desta maneira em situações de total instabilidade, procurando reencontrar seu equilíbrio de forma constante e dinâmica, interagindo da melhor maneira possível com esse fenômeno natural.

    Por se tratar de uma modalidade praticada na água, dentre outras como remo, wakeboard, canoa havaiana, polo aquático, etc., recomenda-se que o praticante tenha as mínimas afinidades e habilidades neste ambiente aquático, para praticar com autonomia e segurança, ou seja, de preferência que saiba nadar.

O Nadar

  O nadar pode ser entendido como qualquer ação motora que o indivíduo realiza intencionalmente para propulsionar através da água (FREUDENHEIM, GAMA, CARRACEDO, 2003). Diferentemente da natação que é uma modalidade esportiva, com regras regidas pela (FINA) que envolve o nadar com intuito de completar determinada distância, mediante forma específica de deslocamento, no menor tempo possível (FREUDENHEIM, MADURERA, 2006).

   O surf e o nadar e/ou natação tem algumas características em comum, que se complementam, além de serem praticadas na água, como:

  • Exigência de coordenação motora, concentração e sincronização de movimentos;
  • Conhecimento corporal, espacial (fundo, raso, resistência da água, etc), direcional (lateralidade – esquerda, direita);
  • O equilíbrio, que na natação é mantido pelos membros inferiores, no surfe é realizado pelos membros superiores;
  • A posição do corpo na hora horizontal (decúbito ventral) e o deslocamento realizado por predomínio dos membros superiores;
  • A realização dos trabalhos de respiração, bloqueio e controle respiratório;
  • Os deslocamentos por imersão, que é ir em direção ao fundo da piscina ou do mar;
  • As ações de sustentação e flutuação (ventral, dorsal, lateral e vertical) que significam permanecer estático no ambiente aquático com segurança e autonomia, entre outras características.

 Desta maneira podemos afirmar que o indivíduo para aprender a surfar de maneira mais segura e autônoma, pode trabalhar no início do processo ensino aprendizagem, concomitantemente as habilidades básicas do nadar que o levariam a dar mais confiança na hora de ir para o mar.

 Dentro deste contexto, nosso objetivo é propor uma metodologia de ensino e aprendizagem do surf em piscina em um “ambiente controlado”, pois não temos chuva, vento, correnteza, a temperatura da água é mais agradável e acaba por facilitar ainda mais o processo e deixa-lo mais pedagógico. Mostraremos a seguir, quais são as etapas, os processos e “competências” básicas da natação, que um aluno precisa saber, para conseguir ficar em pé na prancha, deslizar e se divertir também nas ondas do mar.

A Metodologia de Ensino do Surf

  Para o processo de aprendizagem do surfe propomos aqui uma estrutura ordenada e galgada em alguns aspectos da pirâmide de aprendizagem (GALLAHUE; OZMUN, 2001), onde trabalhamos as habilidades básicas (ambientações aquáticas, técnicas de deslocamento e habilidades básicas do nadar para o surfe), habilidades rudimentares (fundamentos do surf e suas transições) e especializadas (ação de surfar e suas variações). Além disso, vale ressaltar que as fases de desenvolvimento motor (FITTS; POSNER, 1967) (1) inicial ou cognitiva; (2) intermediária ou associativa; e (3) final ou autônoma, são consideradas na hora de propor a sequência pedagógica do surfar.

Cadeia de Elos

 São as competências básicas que o aluno deve seguir e aprender de maneira organizada para o ensino do surfe na piscina. São ordenadas do mais “simples” para o mais “complexo” e podem ser trabalhadas em conjunto (nadar e surfar), porém recomenda-se que as do nadar sejam trabalhadas primeiras, pelo fato de que para surfar com segurança precisamos estar ambientado na água (piscina).

 Cadeia de Elos do Nadar

  • Adaptação ao meio líquido
  • Entrar e sair da piscina, controles respiratórios, transições de posição vertical, horizontal, resistência da água, adaptação às vias sensoriais (boca, nariz, olho, ouvido), etc.
  • Habilidades básicas da natação para o surfe
  • Respiração: controle da inspiração/expiração, bloqueios respiratórios;
  • Imersão: ir em direção ao fundo da piscina;
  • Propulsão: deslizes em diferentes posições, nado cachorrinho, deslocamento sem técnica;
  • Flutuação: variações de posição (ventral, dorsal, lateral e vertical).
  • Técnicas de deslocamento da água
  • Nado de aproximação – Nado crawl alternando cabeça fora e dentro da água;
  • Nado polo – Nado crawl com elevação da cabeça frontal para fora da água;
  • Nado Submerso – Deslocamento submerso;
  • Nado canivete – Deslocamento alternando submerso e superfície.

Cadeia de Elos e fundamentos básicos do Surfe

          Durante uma sessão de surfe, o surfista utiliza três fundamentos básicos, que variam em relação ao posicionamento do corpo, equilíbrio, coordenação e força aplicada. São elas:

  • Remar – é o fundamento básico utilizado pelo surfista para deslocar-se no mar e impulsionar para “pegar” a onda. Deitado no meio da prancha em decúbito ventral com tórax e abdome apoiados na prancha, membros inferiores unidos e utilizando os membros superiores em movimento semelhante ao nado crawl para deslocamento.
  • Sentar – Sentado com a prancha encaixada entre as pernas, posição “cavalgada”, com o corpo na posição vertical (utilização musculatura abdome) e utilizando as pernas embaixo da água para manter equilíbrio. Nesta posição, o surfista esta visualizando todo campo de formação e deslocamento das ondas.
  • Em pé – Posição em que o surfista “desliza” sobre a onda, com os pés em paralelo, afastados na largura do ombro e utilizando os braços para dar equilíbrio e direção. É o ato de surfar e para os mais experientes aqui são realizadas algumas manobras radicais, como o tubo, que é ficar “escondido” dentro da onda (parte oca).

      Geralmente em uma sessão de surfe, o surfista passa 55% do tempo remando (deitado), 30% do tempo sentado e efetivamente de 10% a 15% do tempo surfando, ou seja, mais uma vez ressalta-se a importância de saber nadar, pois neste caso poderia ajudar também no condicionamento do surfista (FONTE – GUIA PRÁTICO DO SURFE).

Segue abaixo as cadeias de elos do nadar e surfar, onde os fundamentos se complementam.

Post - Metodologia do ensino do Surfe - Cesar Jerusevicius
Fig.1 Elos do nadar – Fig.2 Elos do surfar

TRANSIÇÕES DE FUNDAMENTOS/ POSIÇÕES

  1. Posição deitada para sentada – Surfista sai da posição horizontal para vertical, apoiando as mãos na prancha, estendendo os cotovelos, colocando os membros inferiores no mesmo local onde estava o abdome. Utiliza aqui as pernas abaixo da prancha para manter equilíbrio.
  2. Posição sentada para deitada – É o movimento ao contrário do primeiro, aqui o surfista seguro à borda da prancha em seguida desloca as pernas unidas e estendidas para trás e projeta o tronco para parte superior da prancha e inicia a remanda.
  3. Posição deitada para posição em pé – Utilizada quando surfista esta se movimentando para surfar a onda (Pop-up ou Drope). Neste momento surfista apoia as mãos ao lado do tronco, um dos pés posiciona-se na parte de trás da prancha e o outro se desloca abaixo do tronco do surfista, neste momento ele eleva o corpo e fica em pé.

Sequência pedagógica Surfe

  Para a sequência pedagógica do surfe, foi elaborada/organizada uma pirâmide do aprendizado, no qual a base é sustentada pela aquisição da autonomia e ambientação na água, habilidades básicas da natação para o surfe e técnicas de deslocamento. Na parte intermediária serão trabalhados os fundamentos do surfe e suas transições e, no topo a ação de deslizar sobre as ondas, (surfar), juntamente com as manobras do surfe.

Níveis pedagógicos do Surfe

   O surfe pode ser praticado por qualquer pessoa independente do sexo e raça. Em relação à idade recomenda-se a partir dos 3 a 4 anos em função da ambientação aquática, mas não é uma regra. Segue abaixo uma sugestão de divisão de níveis:

  • Iniciante – Aquele aluno que está iniciando no esporte tem pouca habilidade com a prancha e com os fundamentos do surf, ele pode ou não ter habilidades aquáticas.
  • Intermediário – Deseja melhorar suas habilidades na piscina e no mar, tem mais de três anos de prática e já domina as habilidades básicas da natação e do surfe.
  • Avançado – Geralmente são pessoas com mais de cinco anos de prática, tem bastante autonomia no mar (leitura de onda, correnteza, tamanho de onda, saber nadar, etc.) conseguem fazer várias manobras de surfe (tubo, rasgada, batida, etc.), alguns competem em nível nacional ou internacional.
Post - Metodologia do ensino do Surfe - Cesar Jerusevicius

O Batismo no Mar

  É o momento mais sublime e esperado por todo surfista, onde ele vai vivenciar e colocar em prática tudo aquilo que ele aprendeu na piscina, agora no mar, porém com uma experiência e uma bagagem que trarão mais segurança, autonomia, conhecimento e principalmente a chance de ficar em pé na prancha na sua primeira onda surfada.

Um Grande Abraço e Aloha (Saudação Havaiana)

Referências Bibliográficas

ALEGRO. A.SIMÃO, M. EVANGELISTA, A. – Surf funcional: Treinamento funcional para o surf – 1 ed. – São Paulo: Phorte 2013.

BUTT, T. et al.. Surf science: an introduction to waves for surfing. 2ed. Honolulu, HI: University of Hawaii Press, 2004

Castello, C,et al. Conscientização Orientada da Prática do Surfe: Um livro sobre a Aprendizagem do Surfe (p. 202). Edição do Kindle. 

CONWAY, J. Guia prático do surfe. – 1 ed Lisboa 1993

DIAS, C. A. G.. Urbanidades da natureza: o montanhismo, o surfe e as novas configurações do esporte no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Apicuri, 2008;

DIXON, P.. The complete guide to surfing. Guilford, CT: The Lyons Press, 2001  Capítulo 4: Bigger waves, better rides: intermediate skills (Ondas maiores, passeios melhores: habilidades intermediárias)

Fitts, P. M., & Posner, M. I. (1967). Human performance. Belmont, CA: Wadsworth

GALLAHUE, D. L. e OZMUN, J. C. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo: Phorte, 2001

GUISADO, R.. The art of surfing: a training manual for the developing and competitive surfer. Guilford, CT: Falcon, 2003

POTTS, N.. Learn to surf for beginners. Bondi, New South Wales: Academy of Surfing Instructors Pty, 2003  Capítulo 4: Entering and exiting the water (Entrando e saindo da água)

SOUZA, R.. Boas ondas: surfando com Rico de Souza. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004

SLATER, K; BORTE, J.. Pipe dreams: a surfer’s journey. New York, NY: HarperCollins, 2003;

TANI, G..CORRÊA, H. Aprendizagem Motora e Ensino do Esporte. 2016

PROF. CESAR JERUSEVICIUS
Cesar Jerusevicius

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