Por Fabienne Guttin.
Por qual motivo pratico um esporte?
O esporte sempre foi um catalisador dos laços familiares em casa. Criou um sentimento de pertencimento e camaradagem. Facilitou a interação, a comunicação, nos fez enfrentar desafios juntos, bem como nos proporcionou sessões de gargalhadas que chegavam a ser doloridas.
Com o esporte aprendi a usar um snorkel, nadadeiras, máscara e a manusear uma arma de mergulho. Aprendi a ancorar um barco e amarrá-lo à poita, reconhecer o vento, a correnteza, sentir a mudança do tempo, calcular os riscos, limpar o barco, verificar se havia água no casco e, se sim, tirar a tampa do esgotador, dar uma volta com ele até a água se escoar por inteira.
Aprendi a calcular a velocidade do barco a fim de embicar a proa na praia muito suavemente. Calculava a distância que ainda estava da praia, desligava o motor. O barco continuava deslizando até ela e rapidamente ia até a popa para levantar a rabeta do motor no muque antes que a hélice pegasse na areia.
Aprendi a reconhecer se a água a 20, 30 ou 40 km da costa onde íamos praticar pesca sub estava limpa para o mergulho ou não. Reconhecia uma infinidade de espécies de peixes. Sabia quais eram os de “corrida” e quais aqueles que se “entocavam”.
Aprendi que a embarcação é o único meio de sobrevida no mar. Ela é sagrada e deve ser tratada como tal. Ter o cuidado em levar água doce, cabo a mais para a âncora, ter duas ancoras a bordo, ter uma boa faca, algumas peças de reposição do motor e da rabeta para não ficar na mão.
Sempre havia um pequeno tanque com gasolina-estoque. Vai que…
Na popa havia um compartimento que enchíamos de gelo para acolher os peixes que pegaríamos. Gelo esse comprado na fábrica de gelo na Ilhabela. Há 60 anos… O gelo vinha em “vigas” grandes e devíamos picá-lo no compartimento.
Aprendi a importância da organização no barco. Cada arma em seu local presa em ganchos por borrachas no costado do barco. Todos os cabos devidamente enrolados – cada qual com sua função e em seu devido lugar. Aprendi a verificar a caixa de ferramentas. Ver se tudo estava lá e em quais condições. Aprendi a usar a bússola. E a deixar o galão de gasolina e a mangueira mais alta que o reservatório para que o combustível escoasse com a gravidade.
Aprendi a ter equilíbrio. Ficava de pé na proa do barco, com mar mexido ou não, com a âncora na mão, pronta para jogá-la na hora certa ao sinal de meu pai. A âncora era presa a uma corrente e a corrente a um cabo. Aprendi a “sentir” se a âncora estava presa ou não. Verificava a distância da costa da ilha onde estávamos, marcava um ponto de referência e observava se o barco era arrastado ou não. Aprendi a “dar” o tanto de cabo necessário para não tensioná-lo demais ou deixá-lo frouxo. Aprendi os lugares onde o fundo tinha pedras ou era somente areia, ou lodo. Para cada meio, um tipo de âncora – Danforth para areia ou lama; âncora Garateia para pedras.
Aprendi a conviver em um lugar exíguo, ou seja, a lancha, com outros mergulhadores em meio a desafios constantes onde medo, coragem, egoísmo, sensibilidade, humor, generosidade, covardia, ousadia, camaradagem, conhecimentos, experiência e espírito de equipe eram colocados “na mesa” aos olhos de todos.
O mar exigia nossa imersão nele e expunha nossos defeitos e qualidades em 5D. A partir daí, aprendi a decodificar os sentimentos. E a pensar neles. Eram uma parte intrínseca da sobrevivência no meio “inóspito”.
Sempre tive memórias (armazenamento de informações) de todos aqueles momentos. Com tudo isso, minhas lembranças não eram fugazes. O esporte deu consistência a elas. Eram a re-experiência das informações.
Esporte sempre foi sinônimo de aprendizado.
Porém, o que mais aprendi foi a criar momentos de cumplicidade com meus pais, irmão e amigos próximos.
Comecei essa jornada aos 4 anos de idade. Hoje tenho 69 e continuo a praticar o esporte-mor: a natação.
Minhas motivações são várias: realização de um objetivo, bem-estar físico e psicológico, saúde, socialização e incentivar outras pessoas a praticarem um exercício.
O esporte ancorou minha vida a esse alicerce onde está minha persona.
Falar, viver, dormir, sonhar, divulgar, comunicar, incentivar, inspirar, registrar, gravar, filmar, vibrar – Esportes.
“70 em 7” redesenhou e ressignificou essa próxima etapa de minha vida: meus 70 anos
Agradeço diariamente aos esportes por ser quem sou hoje. E que, talvez, continuarei a ser até os 90/100 anos, se assim for meu destino.
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